Esta é uma questão que não diria delicada, mas com certeza, cercada de muita celeuma. Não muitas contradições, mas diria, discordâncias…por um motivo ou outro. O mais importante é entender o que leva alguns profissionais a realizar a terapia endodôntica numa única sessão.O objetivo maior do preparo dos canais é a limpeza completa e modelagem, estabelecendo um controle da infecção para que se possa realizar uma eficiente obturação.
A real concepção da filosofia da sessão única não está em realizar o tratamento na primeira sessão do atendimento apenas pela pressa, mas sim, de acordo com o que se obteve na primeira sessão. Portanto, obturar o canal na mesma sessão não é um objetivo, mas sim uma conseqüência . Isto é, se houve tempo e condições de realizar todo o preparo do canal, com a devida limpeza e modelagem, obtura-se. Por que? Porque o melhor momento de uma obturação de canal é quando se atinge o processo de sanificação. Quando se tem o controle da infecção. A medicação vai apenas manter o status quo, obtido pela limpeza e desinfecção.
O controle da infecção se consegue durante o preparo do sistema de canais. A ação conjunta de instrumentos e substâncias químicas auxiliares com alto, poder bactericida, auxiliados por uma eficiente e constante irrigação com solução fisiológica, com ação hidráulica na remoção dos debris promovidos durante o preparo, conduz a terapia para a etapa final.
É importante observar que, não raro, o profissional prepara parcialmente o canal, coloca a medicação, não importa qual, sela com cimento provisório, achando quem está vedando, e que a medicação irá resolver o problema da infecção! A literatura tem publicado à respeito de contaminação entre sessões, devido à infiltração através destes cimentos provisórios. Como o preparo foi parcial, na sessão seguinte, conclui o preparo e obtura. Qual a diferença? A única é que foi realizada em duas sessões. A diferença estaria, se na primeira sessão preparasse completamente o canal, colocasse a medicação, na sessão seguinte apenas removeria o curativo, sem manipular novamente o canal, e faria a obturação. Aí sim… mas vem uma pergunta… será que a medicação faz diferença realmente? A regressão dos sinais e sintomas foi devido à medicação ou ao eficiente preparo dos canais? Na sessão seguinte será que se consegue remover completamente a medicação ( sendo esta o Ca(OH)2 )?. Pois a presença de remanescentes de Ca(OH)2 no interior dos canais irá interferir na obturação.
Na minha opinião a medicação do canal é uma ótima opção… claro!! Nos casos em que não houve tempo de preparar completamente o canal. Quando falo completamente inclui: ação conjunta de instrumentos, com substância química auxiliar, realização do preflaring, patência e ampliação do forame apical, irrigação eficiente com soro fisiológico, algo em torno de 50 a 80 ml por canal, refinamento incluindo tratamentos de istmos e reentrâncias, eficiente secagem, modelagem do cone de guta percha e obturação termoplastificada (tridimensional).
Leia mais em Técnica da FOP-UNICAMP.
Neste procedimento, com tempo necessário e aplicação de um protocolo preciso e criterioso, seguido com muito rigor, obtem-se o controle da infecção, promovendo o selamento apical e coronário. Isto independe de uma, duas ou três sessões. Nos casos em que realizo o tratamento em duas ou três sessões, não é devido à ação da medicação, mas sim porque não conseguí, nas sessões anteriores atingir o meu limite de trabalho.
Leia mais em medicação intra-canal.
Para concluir, não se controla a infecção com o selamento apical ou coronário… o controle da infecção á alcançado através de um eficiente preparo. A obturação do canal e a restauração coronária irão manter as condições favoráveis obtidas pelo preparo do canal.