Na endodontia atual encontramos muitos paradigmas sendo modificados… alguns conceitos, teorias, padrões, seguidos anteriormente, foram trocados por novos conceitos pautados nas respostas clínicas. Afirmar que as mudanças são definitivas é muita presunção… entretanto, afirmar que está errado, teria que provar o contrário. Mesmo porque, a ciência endodôntica ainda é norteada mais por evidências clínicas do que por evidências científicas. E nas áreas de saúde, principalmente, as verdades são transitórias, pois o que se afirma hoje, algum tempo depois poderá ser modificado.
Poderei citar alguns exemplos:
1- O hipoclorito de sódio é utilizado por oito (8) décadas, e ainda não existe uma evidência científica publicada afirmando qual o pH ou concentração ideal e em que temperatura é eficiente para dissolver tecidos em áreas de difícil acesso no interior dos canais radiculares. O que gera um grande equívoco é que o NaOCl dissolve tecido em áreas mais superficiais e remove a matéria orgânica da smear layer. A literatura ainda não relatou a eficiência do hipoclorito em istmos e reentrâncias, ou em locais mais profundos dos canais radiculares, ao contrário, tem demonstrado que não dissolve. Pois para dissolver tecido é necessário um grande volume, tempo de contato com os tecidos e alta concentração, em proporções diferentes do que se usa na clínica diária. Não obstante, a busca pelo uso do NaOCl é devido ao seu poder de dissolução tecidual.
2- Estabelecer o limite de trabalho através de imagens radiográficas, somando com a sensação tácti e comprimento médio do canal, é aceitável, ainda em algumas escolas, porém não é o que a endodontia atual preconiza. Sobretudo pelo fato de falhas que podem ocorrer na leitura de cada situação. Por vezes achamos que estamos no interior dos canais, mas é um mero engano, pelo fato de não sabermos em que altura ou angulação se encontra o forame. Este, em muitas vezes encontra-se am torno de 3mm aquém do ápice radiográfico (veja imagens no slideshow). Portanto, preconizar um limite de 0,5mm, 1mm ou 2mm aquém do limite radiográfico, ou o instrumento está fora do canal ou aquém do limite desejado. É importante, para que se tenha uma segurança maior, o uso de localizadores eletrônicos foraminais. E não apenas isso, é necessário saber o seu funcionamento. A identificação do forame só acontece quando o instrumento atinge o forame, isto é o aparelho acusa o ponto zero.
3- A patência do forame apical é um passo extremamente importante para a endodontia atual, sobretudo pela proposta de limpeza foraminal e prevenção no acúmullo de raspas de dentina que pode comprometer o preparo do terço apical. Foi idealizada por Schilder no década de 70, e tendo Buchanan como seu maior divulgador. Segundo estes dois grandes nomes da endodontia, a intenção da patência é fazer o desbridamento do forame mantendo a forma original do forame apical… mas a literatura relata que mesmo utilizando a lima padrão, lima tipo K#10 , considerada a lima de patência, força mais uma parede que outra, promovendo uma pequena alteração e diminuta ampliação, deixando ainda resíduos nas paredes, principalmente em canais curvos ( wu 2001).
Entretanto, mesmo promovendo esta pequena variação, é um passo de importância fundamental, pois irá não apenas impedir o acúmulo de raspas de dentina evitando desvios ou perdas do limite de trabalho, mas sobretudo em canais infectados, irá interferir no arranjo microbiano existente no forame apical, promovendo um desequilíbrio e redução da agressividade bacteriana e portanto induzindo uma resposta biológica, na maioria das vezes, positiva.
Mas, o que é mais interessante… a patência apenas não é suficiente para limpar o forame. O diâmetro do forame, outro paradigma quebrado, é maior do que se pensa. Instrumentos de numeração inferior ao #25 passam pelo forame, fazendo simples patência tocando em uma das paredes deixando boa parte ao redor intacta e contaminada (Veja imagens no slideshow).
A proposta de ampliação do forame apical, através da Técnica da FOP-UNICAMP, tendo como seu idealizador o Prof. Francisco José de Souza Filho, tem como foco principal a limpeza real do forame apical, a remoção mecânica do arranjo microbiano das paredes do forame, com um protocolo preciso e seguro. A limpeza e remoção de dentina contaminada e biofilme só acontece pela ação mecânica. A literatura ainda não apresentou nenhuma substância química capaz de dissolver ou remover o biofilme microbiano.
Posso afirmar que as respostas obtidas na minha clínica diária impressionam. Após 27 anos realizando endodontia baseado em princípios como: manutenção de coto periodontal apical e hipoclorito de sódio… terapia a longo prazo com Ca(OH)2, etc… tive o prazer e felicidade de conhecer e experimentar, através do curso de mestrado, tendo como meu orientador o Prof. Francisco José de Souza Filho, a Técnica da FOP-UNICAMP. Vejo resultados surpreendentes em situações que de outra forma poderiam necessitar de retratamento. Principalmente em casos de dentes com lesão apical.
Selye em 1959, com trabalho histológico mostrou a resposta de tecido conectivo em tubos implantados em dorso de ratos, mostrando a invaginação de tecido conectivo para o interior dos tubos.
Trabalho realizado por Hessiom 1979, afirmava que deve-se levar a defesa orgânica para a área infectada… que se deve alargar mais para permitir um maior acesso de células de defesa.
Torneck 1966- Oral Surg.1966; 21:379-387 – relatou que “a capacidade de invaginação de tecido de cicatrização depende da relação comprimento e diâmetro dos tubos”. Afirmando que, quanto maior o diâmetro, maior quantidade de tecido conectivo invagina.
Oreste Benatti 1985 – publicou sobre o “efeito da ampliação do terço apical do canal na reparação pós-tratamento endodôntico”.
Souza-Filho FJ et al 1987 na sua tese de mestrado, estudou a resposta histopatológica em dentes contaminados, publicando artigo sobre sua tese com o título – Influence of the enlargement of the apical forâmen in periapical repair of contaminated teeth of dog. OOOO 1987;64:480.
Souza-Filho FJ 1996 Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent.1996; 50(2). Influência do nível de obturação e do alargamento do forame apical no processo de reparo tecidual.
Trabalhos clínicos tem sido realizados em pacientes há algum tempo e agora, final de 2010 serão publicados, com resultados surpreendentes. Aguardemos